Deputados que realizam campanha na região de Guarda dos Ferreiros e São Gotardo estão no ranking dos que ferem direitos trabalhistas e socioambientais

Alguns dos deputados citados tem feito campanha na região de Guarda dos Ferreiros

Por Aécio Gonçalves 14/09/2018 - 11:43 hs

Quinze deputados federais mineiros, inclusive alguns que tem feito campanha na região de Guarda dos Ferreiros e São Gotardo, como por exemplo, Raquel Muniz, e Newton Cardoso Junior, estão no topo do ruralômetro, ranking feito pela ONG Repórter Brasil com base em dados da Receita Federal, do Ministério do Trabalho e de votações, criado para identificar e tornar públicas situações que ferem direitos trabalhistas e causam danos socioambientais no Brasil.

O termômetro começa com a temperatura 37. Quanto maior for o número de leis que geraram impacto negativo para o meio ambiente, população indígena e trabalhadores rurais propostos ou com voto de apoio do deputado, maior é a temperatura do deputado. 

Quinze dos deputados mineiros analisados tiveram temperatura superior a 39 graus, considerada febre alta. Com quatro representantes, o MDB foi o partido com o maior número de parlamentares dentro desse grupo em Minas.  

Mauro Lopes, emedebista, teve febre de 40.6 graus. Segundo o levantamento, o deputado, que tem propriedade rural, teve dez votações consideradas negativas por entidades como o Greenpeace e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. Entre os projetos estão a Reforma Trabalhista, a Lei da Terceirização e a PEC do Teto de Gastos. Em 2014, ele recebeu doação de campanha de três empresas autuadas pelo IBAMA. A assessoria de imprensa do deputado Mauro Lopes foi procurada, mas até o momento não respondeu.

O deputado federal Marcos Montes, do PSD, também com 40.6 graus de febre, de dez votações, teve nove consideradas negativas. Entre elas, a favorável à medida provisória, aprovada em maio de 2015, que dificultou o acesso à pensão por morte do INSS, o que impacta trabalhadores urbanos e rurais. Segundo o ruralômetro, ele é autor de dois projetos, em tramitação, que são desfavoráveis ao processo de demarcação de terras indígenas e o que cria a CPI para investigar a atuação da Funai e do Incra. Sócio proprietário de quatro propriedades rurais, em 2014 recebeu doação de quatro empresas autuadas pelo Ibama. Duas delas flagradas em trabalho escravo. 

O deputado, que é candidato a vice-governador na chapa do tucano Antonio Anastasia, lamentou que tenha desagradado a setores tão importantes e lembrou que recebeu o prêmio Congresso em Foco pela atuação em defesa do mundo produtivo em 2017 e 2018 e afirma que votou pela Reforma Trabalhista para que o Brasil reencontre o caminho do desenvolvimento e do emprego.

Em terceiro lugar está Rodrigo Pacheco, do DEM, candidato ao Senado, com 40.5 graus. Ele teve 11 votações consideradas negativas, entre elas o voto favorável à medida provisória de 2015 que dificultou o acesso ao seguro-desemprego e retirou o benefício dos trabalhadores rurais que trabalham por safra. Também recebeu doações de empresas autuadas pelo Ibama. Pacheco não se posicionou sobre o assunto até o momento.

Saraiva Felipe, do MDB, com 40.1 de febre, tem um imóvel rural e teve 13 votações negativas, uma positiva e recebeu doação de empresa autuada pelo Ibama. Entre as votações negativas está o voto de apoio ao projeto que acaba com a exigência do símbolo de alimentos transgênicos nos rótulos e a votação considerada positiva, aprovada em junho de 2015, garantiu a manutenção da política de valorização do salário-mínimo até 2019. Procurado pela reportagem, o deputado não respondeu até o fechamento desta reportagem.

O delegado Edson Moreira, do PR, também aparece com 40.1 de febre. Ele teve 13 votações consideradas negativas e uma positiva. Entre as negativas está o voto a favor da Medida Provisória da Grilagem que facilitou a regularização de terras ocupadas, podendo incentivar a grilagem, e a considerada positiva ajudou a garantir a manutenção da política de valorização do salário-mínimo até 2019. A assessoria de imprensa do deputado, que estava em agenda de campanha pelo interior, não conseguiu localizá-lo para responder sobre o assunto.

O termômetro marcou para o deputado Domingos Sávio, do PSDB, 40 graus de febre. Ele é dono de dois imóveis rurais, teve oito votações consideradas negativas, três positivas e recebeu, em 2014, doações de três empresas autuadas pelo Ibama, uma delas flagrada por trabalho escravo.  

O tucano também é autor do projeto que altera o processo de demarcação de terras indígena e Invalida regra do Ministério do Trabalho sobre períodos de descanso para quem trabalha a céu aberto. O parlamentar, que disse defender o meio rural e os produtores, classificou como provocação caluniosa o fato de estar na lista. 

Domingos Sávio repudiou a colocação sobre a febre ruralista, que considerou pejorativa, e solicitou a publicação do nome e do CPF do responsável pelo site que fez o levantamento, a ONG Repórter Brasil, e disse que vai tomar as providências cabíveis.

Para Luís Tibé, do Avante, o termômetro marcou 39.8 de febre. Ele teve nove votações negativas, entre elas a da ampliação da terceirização em 2017, e uma positiva: a que garantiu a manutenção da política de valorização do salário-mínimo até 2019. 

Em nota, a assessoria do deputado informou que o mandato de Luís Tibé contempla moradores e trabalhadores da zona rural, valoriza o pequeno produtor e fomenta a agricultura familiar.

O deputado federal Leonardo Quintão, do MDB, ficou com 39.7 graus, com participação negativa em sete das oito votações em que participou, como a Reforma Trabalhista, a PEC do Teto dos Gastos e o que acaba com a exigência do símbolo de alimentos transgênicos nos rótulos. 

A assessoria de imprensa do deputado, que estava em agenda de campanha pelo interior, não conseguiu localizá-lo para responder sobre o assunto.

Diego Andrade, do PSD, com 39.6 graus, teve avaliações negativas em nove dos dez projetos que votou, como a lei que ampliou a terceirização dificultando o combate ao trabalho escravo no campo. Além disso, o deputado também recebeu doação de empresas autuadas pelo Ibama. O parlamentar não se pronunciou sobre o assunto até o fechamento desta reportagem.

O deputado Carlos Melles, do DEM, teve avaliação negativa em oito dos dez projetos que votou e ficou com 39.5 graus. O parlamentar, que tem uma empresa rural na cidade de São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas, também recebeu doação de empresas autuadas pelo Ibama. Procurado pela nossa reportagem, o parlamentar não se posicionou sobre o assunto até o fechamento desta reportagem.

Apesar de ter ficado com 39.5 graus no ruralômetro, o deputado federal Newton Cardoso Júnior, do MDB, é o parlamentar que lidera, não só em Minas mas em todo o país, o ranking daqueles que mais receberam infrações trabalhistas. Foram 180, sendo o principal problema a contratação de trabalhadores sem carteira assinada. Além das votações consideradas negativas em projetos como MP da Grilagem, Reforma Trabalhista e PEC do Teto de Gastos, o deputado recebeu doações de empresas autuadas pelo Ibama, está ligado a empresas que devem o INSS e ainda é réu condenado em ação penal do Supremo Tribunal Federal (STF). Procurado pela nossa reportagem, não se posicionou sobre o assunto até o fechamento desta reportagem.

Com 39,4 graus, o deputado Luiz Fernando Faria, do PP, foi avaliado de forma negativa em nove das 11 votações que participou, como a Reforma Trabalhista e a medida provisória que permitiu que fosse repassado ao consumidor custos extras que são gerados quando hidrelétricas não conseguem entregar a energia prometida. Com dois imóveis rurais, o parlamentar ainda recebeu doações de empresas autuadas pelo Ibama. 

Em nota, a assessoria de imprensa do deputado informou que “seus votos sempre foram pautados em favor dos interesses dos produtores rurais, na defesa dos trabalhadores do campo e da cidade, pela geração de emprego, na defesa dos pequenos e médios municípios, com independência e a convicção de estar em sintonia com os interesses da sociedade”.

O deputado Aelton Freitas, do PR, ficou com 39.3 graus por causa de dez votações negativas das 12 em que participou, como a MP da Grilagem e a proposta que permitiu o aumento da área desprotegida de um parque nacional no Pará. O parlamentar, que tem dois imóveis rurais, recebeu doações de empresas autuadas pelo Ibama. Até o fechamento desta reportagem, ele não tinha respondido à nossa reportagem.

Raquel Muniz, do PSD, também ficou com 39.3 graus de febre ruralista com nove votações consideradas negativas das 12 que participou sobre temas como meio ambiente, defesa dos direitos dos trabalhadores e questões indígenas. A deputada recebeu recursos de empresas autuadas pelo Ibama e está ligada a empresas que devem para o INSS. Procurada, não se posicionou sobre o assunto até o fechamento desta reportagem.

O deputado Bilac Pinto, do DEM, com dez das 13 votações classificadas como negativas, como a PEC do Teto de Gastos e a ampliação da terceirização, ficou com 39.3 graus. O parlamentar, que tem um imóvel rural, recebeu doações de empresas flagradas com trabalho escravo e empresas autuadas pelo Ibama. O deputado não se pronunciou sobre o assunto até o fechamento desta reportagem.

Fonte e foto: Itatiaia Link da reportagem: http://itatiaia.sili.com.br/noticia/quinze-deputados-mineiros-estao-no-ranking-do